Entrevista com Sixty9-CharlesBrasil
Inaugurando a seção de entrevistas em 2011, o site do Made in Brazil teve a oportunidade de conversar com Charles “Charles Brasil” Teles (foto), do sixty9, anteriormente conhecido como YouNeverKnow. O time de Uberlândia é composto por ele e seus três filhos e tem conquistado destaque cada vez maior no cenário mineiro.
Na entrevista, Charles fala do seu começo no Counter-Strike, quando surgiu a ideia de criar uma equipe e todos os desdobramentos que este acontecimento teve. Um exemplo de pai apoiador, assim como Amarildo Resende, ele expôs as suas ideias e ainda deixou um recado para todos os pais do Brasil:
Leia:
Muito obrigado pela oportunidade desta entrevista! Primeiramente, se apresente aos usuários de MIBR.com.br.
Vamos lá: meu nome é Charles Teles da Fonseca, tenho 37 anos, sou formado em Sistema de Informação e sou Coordenador de TI e Administrador de Banco de Dados Oracle. Tirando o CS, o que mais faço é curtir a família e ver esportes.
Quando e como começou com o Counter-Strike?
Foi em 2001. Sempre gostei de jogos desde a época do vídeo game Atari. Comecei em lan house pois era o jogo do momento. Em 2003, consegui comprar meu próprio PC, montar um clan de amigos e famoso na internet, o CS.BR (que existe até hoje e tenho maior amizade com o pessoal). Na época usava internet discada e era o CS 1.5, no qual a mira da AWP não tinha delay. Um época boa que não volta. Sem falar nos servidores locados na unisite, Terra e NetRangers.
Como foi a introdução dos seus filhos no mundo do CS? E a partir de qual momento decidiram criar um time?
Inaugurou uma lan house no Shopping Center daqui e sempre que íamos passear no shopping jogávamos juntos. Era até engraçado porque eles custavam a sentar corretamente na cadeira, e a cada dia eles gostavam mais. O pessoal ficava bravo quando morria e perguntava: “quem é fulano”. Outro gritava: “aquele menino de sete anos ali”, hahahaha.
A ideia de fazer um time competitivo surgiu no fim de 2009 ao conhecermos o exl (Jefferson) e convidarmos para montar um time. Nasceu o YouNeverKnow. Grande Excalil, gente fina, meu filho adotivo para sempre.
Ter um time de CS com seus três filhos atrapalha de alguma forma a relação familiar e vice-versa?
No caso da relação com eles só ajuda, pois acompanho o desenvolvimento deles e consigo descobrir mais de cada um a cada viagem. Outra coisa que é excelente de estarmos em família são os valores que o game ensina: comprometimento, respeito, humildade, trabalho em equipe. Isso eles vão levar por toda a vida.
O que dificulta um pouco é, por ser separado da mãe deles, somente o mais velho mora comigo. Os gêmeos moram com a mãe por escolha deles, casei pela segunda vez e por sorte ela não proíbe e, em determinados momentos, até apoia.
Em algum momento um problema no game interferiu na relação de vocês?
Não, existe um respeito muito grande entre nós. O limite de tudo ajuda a não interferir.
Você concordaria que seus filhos deixassem os estudos para seguir uma carreira mais séria no CS?
Se não estivéssemos no Brasil, sim, mas aqui isso não é possível por falta de incentivo aos que tentam apoiar. Se durar mais alguns anos, quem sabe. Hoje a comunidade do CS é enorme e temos várias promessas e alguns que já são realidades. Quantos destes conseguem viver somente do game? Pode existir, mas são raríssimas exceções.
O que o e-Sport pode ensinar aos seus filhos?
Agir em equipe, respeito, atitude, comprometimento e o principal: dedicação, pois sem dedicação não conseguimos ser bons em nada na vida.
Recentemente, você organizou um campeonato em sua cidade, o Mega Cup NetGames, que atraiu equipes de outros estados. Como esse torneio foi idealizado e quem esteve por trás, além de você, para que ele acontecesse?
Tentamos fazer este campeonato no ano passado, mas infelizmente não foi possível. Este ano tudo deu certo. Tivemos apoio total dos proprietários da lan e funcionários. Nosso time e do MessiaX, da aX, que nos ajudou bastante com questões de configuração dos servidores.
O seu time conquistou a vice-colocação do Mega Cup NetGames, vencendo times fortes e ficando atrás apenas do semXorah. Qual sua avaliação sobre o desempenho do sixty9?
Achamos excelente, pois todos sabem que o sX é um ótimo time. Se não tivéssemos envolvidos na organização, com toda certeza teríamos dado mais trabalho para eles, principalmente eu e o pbf, que basicamente não dormimos de sexta para sábado para que o campeonato acontecesse e ainda tivemos que apoiar os times durante os dois dias. Jogamos o torneio com praticamente três.
O seu time tem melhorado a cada competição disputada. Você acredita que foi um crescimento dos jogadores que compõem a line-up ou a entrada do Osama foi fundamental?
Penso que a soma de tudo. A humildade que aprendemos a cada dia que é o essencial. O Osama como capitão e a dedicação de cada um são importantes.
Na partida contra o aX, houve um bug por parte do time brasiliense, que se tornou uma pequena polêmica por você também ser o organizador do campeonato. Como você procedeu nessa situação? O time deu kill em apenas um round, sendo que o mais usado nos torneios é o infrator perder três rounds. Você ficou com medo que talvez houvesse uma reclamação de que favoreceu a sua equipe?
Não, pelo contrário. A decisão do round kill foi a aproximação que tínhamos com o Messias e com a intenção de não prejudicá-los. Após a confirmação do bug, independente de ter sido intencional ou não, falei para ele: “Messias você sabe que o correto é três rounds no final, mas não vou fazer isso com seu time, um round kill, ok?” Ele concordou. Porém, passando os fatos, ambos sabemos que não foi uma decisão correta, serviu de aprendizado.
Com o sucesso dessa primeira experiência, pretende organizar mais campeonatos?
Sim, o dono da lan house está correndo atrás de alguns patrocinadores para organizar outro campeonato para o meio do ano.
No cenário brasileiro, há dois exemplos de grandes apoiadores de seus filhos: você e Amarildo Resende, pai do prd. O quão importante é esse incentivo?
Meu apoio é incondicional e não se limita ao game. Sempre acompanho eles de perto em qualquer tipo de atividade. Sou o famoso “pai coruja”. Vejo que o rendimento com os pais perto é diferenciado, eles se sentem mais protegidos e encorajados. Uma frase que carrego em minha vida e que gostaria de deixar para todos os pais: “A melhor maneira de ter bons filhos é fazê-los felizes”.
Por que você acredita que existe essa rejeição por parte dos pais com o Counter-Strike. Você acha que os jogadores deveriam mostrar mais aos pais tudo que envolve esse game?
Para mim falta os pais serem atualizados das informações, pois notícia ruim a mídia frisa bastante, agora as boas em relação aos jogos são rápidas. Podem comparar com a reportagem do Fallen. Outra questão que pode ter ficado ainda na cabeça dos pais foi a época que o game era massacrado pela mídia e chegou a ser proibido. Agora cabe aos filhos saberem conversar com os pais e reverter essa situação.
Você sofre algum tipo de preconceito por jogar Counter-Strike?
De maneira alguma.
O YouKeverKnow, que agora é sixty9, sempre disputa os campeonatos da região e os qualifies que acontecem em Minas. O time tem algum patrocinador ou os gastos são exclusivamente seus?
Sim, temos a NetGames que nos apoia com despesas de inscrições e alguns custo de viagem quando possível. O restante eu divido com o time, ficando 1/3 para mim e o pbf me ajuda quando pode. Este foi o principal motivo de não participarmos dos principais nacionais no passado. Em 2011, estamos atrás de patrocínio para ajudar nas viagens para termos como disputar os principais torneios.
Como fica para vocês treinarem em casa? São quatro computadores ou há um revezamento?
Os gêmeos treinam na mãe deles, eu e pbf na minha casa e o Osama na casa dele, mas boa parte de 2010 os treinos aconteceram na lan, pois eu estava sem PC.
Algum dos seus filhos já cogitou deixar a line-up e ir para outro time? Se não, caso isso ocorresse, qual seria a sua reação e a dos irmãos?
Já tiveram convites, mas não aceitaram. Já conversamos bastante e a ideia de crescer juntos é o que motiva os nossos resultados atuais.
Se você pudesse escolher um jogador internacional para completar a line-up de sua família, quem seria? Por quê?
Com toda certeza Xizt, pois é um jogador novo, ótimo killer e que vem se destacando cada vez mais internacionalmente.
Você acredita que a sua equipe esteja pronta para bater de frente com os principais times mineiros para disputar um grande campeonato nacional?
Sim. Estamos nos dedicando para isso, apesar de que os principais adversários são de Brasília pela maior proximidade com nossa cidade. O custo para irmos a Belo Horizonte é muito alto. São sete horas de viagem contra quatro para Brasília. Para campeonatos de dois dias, boa parte trabalha na segunda, então não conseguiríamos voltar a tempo.
Quais são os planos do sixty9 para 2011?
Nossa meta é no mínimo ousada: estar entre os cinco primeiros. Vamos ver no que vai dar. Temos consciência de que vai ser muito difícil, mas vamos treinar para isso.
No fim dessa entrevista, gostaríamos que você deixasse uma mensagem para os pais dos milhares de jogadores brasileiros que acompanham o cenário nacional. O que você tem a dizer?
Quantos pais apoiam seus filhos a praticar um esporte como futebol, vôlei, natação, etc? Se o seu filho escolheu o CS, qual o problema de apoiá-los? Talvez pelo fato de achar que é violento ou por que não consegue impor limites? Posso afirmar que a violência está nas ruas. Um argumento que usei para convencer a mãe deles a deixá-los jogar foi o seguinte: é melhor você ver seu filho jogando e conseguindo acompanhar e controlar tudo de perto ou eles na rua, que boa parte estão longe dos seus olhos? Com certeza temos que acompanhar desde sempre, mas a idade de 11 aos 17 são as mais críticas. Se estiverem em casa, no computador ou lan, e você acompanhando vai facilitar e muito no desenvolvimento deles. Mas é claro que deve haver metas na escola, na vida profissional e limite no jogo, pois qualquer tipo de esforço anormal mental ou físico é prejudicial à saúde.
Espero que tenha ajudado, abraço a todos.
Fonte:Mibr.com.br
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